A Teoria da Empatia Dupla
Por Sara Rocha

A Teoria da Empatia Dupla sugere que, quando pessoas com perspectivas muito diferentes do mundo interagem, podem ter difculdade em ter o mesmo tipo de empatia e de comunicar um com o outro.

Quando aplicado ao autismo, sugere que a comunicação entre autistas é tão eficiente quanto entre neurotípicos (não autistas), uma vez que temos formas semelhantes de nos comunicarmos, e que as dificuldades de comunicação surgem da incompatibilidade entre os neurótipos, ou seja, entre pessoas autistas e não autistas. Esses resultados desafiam o critério diagnóstico de que autistas não têm as habilidades para interagir com sucesso (Milton, 2012).

Isso foi confirmado pelo Crompton et al. (2020a), onde testaram as informações passadas entre autistas, entre neurotípicos e cadeias mistas. Este estudo mostrou eficiência igual quando o neurótipo era o mesmo e capacidade de comunicação diminuída quando era misturado. Portanto, não é necessariamente que os autistas tenham uma incapacidade na comunicação, mas eles a têm quando estão a comunicar com alguém que não é autista, e um neurotípico tem também uma incapacidade na comunicação, se estiverem a falar com um autista. Outros estudos, confirmaram tambem esta teoria, como por exemplo Morrison et al. (2019) e Crompton et al. (2020b).

Grande parte da investigação científica no Autismo tem por base a ideia de défices centrais na comunicação e socialização, que a teoria da empatia dupla veio invalidar. A teoria da empatia dupla tem bastante influencia na ideia da empatia no Autismo, visto existir uma ideia errada de qua as pessoas autistas têm baixa empatia, mas na realidade, apenas comunicam empatia de uma forma diferente das pessoas não autistas.

Quando falamos de empatia e socialização, temos também que mencionar a Alexitimia, que é a dificuldade em identificar, distinguir e descrever as emoções que sentimos. Estudos indicam que pelo menos 50% dos Autistas tenham Alexitimia. Se considerarmos que a Alexitimia torna difícil identificar emoções complexas, isto significa que sentimos emoções, mas podemos demorar um pouco mais a processar e expressar o que estamos a sentir. Na realidade, pessoas autistas podem ser hiper-empáticos, fazendo com que o que os outros sentem seja demasiado para processarmos e nos cause sobrecarga.

Resumindo, é verdade que pessoas autistas tem baixa empatia? Não! É um dos mitos mais comuns, inclusive propagados por profissionais de saúde e investigadores. Mais do que focados na normalização da socialização e empatia autista, devíamos estar mais focados em compreender as necessidades e formas de comunicação e de socialização autista, de forma a providenciar melhores serviços de apoio, inclusive mais serviços desenvolvidos por pessoas autistas que tenham por base a socialização entre pessoas autistas, como grupo de apoio de pares.

Referências: 

Milton, Damian (2012) On the ontological status of autism: the ‘double empathy problem’. Disability & Society, 27 (6). pp. 883-887. ISSN 0968-7599. https://kar.kent.ac.uk/62639/1/Double%20empathy%20problem.pdf 

Crompton, C. J., Ropar, D., Evans-Williams, C. V., Flynn, E. G., & Fletcher-Watson, S. (2020a). Autistic peer-to-peer information transfer is highly effective. Autism24(7), 1704–1712. https://doi.org/10.1177/1362361320919286

Crompton CJ, Sharp M, Axbey H, Fletcher-Watson S, Flynn EG and Ropar D (2020b) Neurotype-Matching, but Not Being Autistic, Influences Self and Observer Ratings of Interpersonal Rapport. Front. Psychol. 11:586171. doi: 10.3389/fpsyg.2020.586171

Morrison, K. E., DeBrabander, K. M., Jones, D. R., Faso, D. J., Ackerman, R. A., & Sasson, N. J. (2020). Outcomes of real-world social interaction for autistic adults paired with autistic compared to typically developing partners. Autism : the international journal of research and practice24(5), 1067–1080. https://doi.org/10.1177/1362361319892701

Poquérusse, J., Pastore, L., Dellantonio, S., & Esposito, G. (2018). Alexithymia and Autism Spectrum Disorder: A Complex Relationship. Frontiers in psychology9, 1196.  https://doi.org/10.3389/fpsyg.2018.01196 

Fletcher-Watson, S., & Bird, G. (2020). Autism and empathy: What are the real links?. Autism : the international journal of research and practice24(1), 3–6. https://doi.org/10.1177/1362361319883506

Skip to content